sexta-feira, 18 de julho de 2014

ABRA ESSA PORTA! - RESENHA SUICIDAS, RAPHAEL MONTES.

Suicidas foi entregue em minha casa por volta das duas horas da tarde dessa segunda. Hoje, é sexta-feira,  e as nove horas da manhã eu o terminei enquanto tomava meu café na padaria perto do meu trabalho. Surpresa, atônita, em choque.
Raphael Montes o escreveu quando tinha vinte e dois anos e com maturidade impressionante criou uma estória policial longe da estrutura clássica. Violenta, bem escrita, imprevisível.
Ritinha, Maria João, Lucas, Danilo, Otto, Waléria, Zak,Noel e Alessandro , as nove peças de um quebra-cabeças  chamado de caso  Cyrille´s house .Nove pessoas no auge da saúde e dos sonhos que resolveram se massacrar no porão da casa de campo milionária dos pais de Zak em uma roleta-russa.
 Teria sido desespero, imaturidade, medo diante dos divórcios dos pais, da doença de entes querido, de novidades inesperadas o que os motivaram a algo tão cruel?
Um ano depois, a delegada responsável pelo caso reúne as mães dos jovens mortos para  leitura das anotações de Alessandro( aspirante a escritor), buscando finalmente um desfecho para a investigação. Os registros das conversas são brutais, emocionam. Verdades   incomodas são ditas.Mães despejam suas dores, suas perdas, o choque do qual nunca se esquecerão.
Nada em  é o que parece ser. Confesso, em muitos momentos tentei me convencer  que minhas impressões sobre um outro personagem estavam erradas. Pais que usam pessoas como escadas para ter sucesso, mães permissivas demais, garotas e garotos promíscuos e interesseiros são mostrados de maneira claustrofóbica :Egoístas,arrogantes, interesseiros.Demasiadamente humanos.
E irresistíveis.
Aquino, um dos policiais que aparecem na trama pergunta a Alessandro até que ponto ele iria para defender um amigo.Além do meu olhar surpreso e minha risada nervosa ao ler o final mais uma vez surpreendente de um livro do Raphael outra pergunta também me assombrou : A que ponto as pessoas que mais amamos podem chegar ao serem acuadas pelas tragédias da vida?
Melhor você ler o livro e não pensar nisso. E torcer para que um grande produtor de cinema também.
.
                                                     D.SConsiglio







sexta-feira, 11 de julho de 2014

QUE A FOFURA SEJA SEMPRE PRESENTE- RESENHA DEIXE A NEVE CAIR

Uma ex aluna me surpreendeu quando, durante nossa aula, me ofereceu  Deixe a neve cair e avisou:
 " Teacher, você vai adorar"
E olha, do alto de seus treze anos Maria Eduarda estava certíssima : O livro é composto de três contos escritos por Maurren Johnson (  O expresso jubileu), Jonh Green(O milagre da torcida de Natal) e Lauren Myracle ( O santo padroeiro dos porcos). Três situações que se passam na noite de Natal, durante uma das piores nevascas dos últimos anos.
 O primeiro conto, de Johnson é sobre uma menina de nome estranho e pais mais ainda que  namora um rapaz daqueles que todo mundo já conheceu um dia ( o cara perfeito para os outros, mas um péssimo namorado) e está em um trem que fica preso por causa da neve  com um grupo de líderes de torcida malucas e um rapaz misterioso.Para mim  o melhor, principalmente pelo senso de humor.
O de Green mostra três amigos que deixam uma maratona de filmes de James Bond pela metade e com um jogo Twister tentam chegar a um restaurante  onde um grupo de líderes de torcida está preso por causa da terrível nevasca que parou o trem onde estavam.Opa, parece que eu me repeti? Não! E aí que vem o charme do livro: Os três contos são interligados, os personagens do primeiro vão aparecer nos seguintes, e aquela sensação de "Opa, estão falando do Stuart, da Angie" é uma delícia, dá um sensação de familiaridade.
O terceiro, de Myracle, é sobre Addie, uma funcionária do Starbucks, linda, loira, que em uma noite depois de discutir com Jeb, seu namorado fofo e apaixonado acaba beijando um cara gato, mas idiota. E se pune por isso cortando o cabelo de um jeito ridículo ( impossível não imaginar como ela ficou), e se questionando se realmente é uma pessoa egoísta como todos dizem que ela é. Dos três, achei o mais fraco, mas ele é que dá fechamento na trajetória dos personagens.
 Deixe a neve cair é  gostoso de ler, mas  longe de ser incrível. O que ele faz com certeza é que a gente tenha a sensação de que se a fofura, o amor e  a amizade fossem regras em nossas vidas, seríamos muito mais felizes.
                                                         D.SConsiglio

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O TRIBUNAL DO FACEBOOK.


Se a justiça do Brasil é reconhecidamente lenta o mesmo não se pode dizer da caça às bruxas praticada nas redes sociais: Em um dia a mãe que não opta por uma cesariana é julgada por sua terrível escolha, o político com câncer torna-se motivo de chacota, o cantor que sucumbiu a uma crise nervosa é taxado de perdedor. E seguimos perfeitos, inabaláveis, inquisidores apontando nosso dedinho para julgar quem bem entendermos, do conforto das nossas casas, protegidos pela tela do nosso computador.

O último a sentar no invisível banco dos réus dos justiceiros virtuais é Neymar ,culpado, segundo alguns pelo exagero da mídia em torno da sua fratura, pela crise do SUS,por chorar em campo, por ter nascido. E dá-lhe piadinhas, já que a dor, a frustração ( imagina, para um jogador de futebol deve ser normal sofrer uma fratura no auge da copa do mundo) só atinge quem não tem dinheiro, não é?
 Estou começando a acreditar em uma  novo teoria da conspiração: Seriam os profissionais  famosos robôs, programados para entreter uma massa inferior, comprando o mundo com o dinheiro vindo de alguma grande corporação secreta?, Psiu, leia baixo, talvez eles estejam nos espionando.

Ter senso crítico não deveria ser sinônimo de falta de generosidade, compadecer-se do sofrimento do próximo, não importa a conta bancária que ele tenha não te fará inferior, comprado pela  Globo, pelo PT, pelo bolsa família. E nem menos inteligente, pode ficar tranqüilo. Talvez não tão rancoroso, e pelo menos desde que nasci sempre me ensinaram que isso era bom.

Será que algo mudou e eu não percebi?

Se advogados e juízes, com anos de experiência podem cometer erros o que esperar de quem se arma do falso poder que a Internet proporciona? Romeu Tuma Junior, em seu livro Assassinato de Reputações cita o tribunal do Google, segundo ele  um dos grandes responsáveis por sua derrocada: Informações repassadas a toda velocidade, vidas sendo destroçadas com uma rapidez irreparável, e continuamos achando que tudo não passa de brincadeira, do famoso e idolatrado(?) senso de humor do qual tanto nos orgulhamos.

Uma das pessoas que teria participado do linchamento da Fabiane Maria de Jesus teria atribuído as  redes sociais a responsabilidade por algo abominável, sem explicação. O tribunal do Google, da Internet, do facebook, povoado por pessoas cegas por um falso sentimento de dever que precisa ser cumprido , já puniu com a pena de morte 
 e segue fazendo vítimas dos piores dos crimes: A injustiça e a falta de humanidade.
E isso me dá muito medo.
                                                                 D.SConsiglio

 

 

 

domingo, 6 de julho de 2014

AMOR, ROCK N´ROLL E DOR ( UM CONTO EM TRÊS PARTES)

PAIXÃO, ROCK N´ROLL E DOR. (UM CONTO EM TRÊS PARTES)

Conheci Carlos no nosso primeiro ano de faculdade : Eu estava em uma das turmas de Letras, e ele cursava Direito, seu projeto de vida desde o Ensino Médio.

Nos aproximamos quando ele me apresentou seu primo André, com quem saí durante um mês, até ele sumir sem deixar explicações. Não fiquei com raiva, fiquei com um novo amigo: Se antes Carlos... era só o primo gente boa de um cara gato que eu paquerava, em poucas semanas ele se tornou uma companhia indispensável.

E com nossas saídas aos fins de semana começaram as insinuações:

- Ah, mas vocês nuuunca?

- Se não aconteceu, Sandrinha, vai acontecer.

Como reagíamos? Simples, brindando as especulações com muita cerveja e tequila. E contrariando todas as previsões de que amizade entre homem e mulher não existe, mantivemos nosso relacionamento após nos formarmos.

Logo que deixei a faculdade consegui um emprego em uma grande rede de escolas de idiomas e Carlos e um grupo de colegas vinham batalhando um lugar ao sol, abrindo um escritório de advocacia juntos. Nossa vida amorosa? A minha havia começado um lindo capítulo chamado Rodolfo e a de Carlos, bem...

Ele dizia não estar disponível para nenhum relacionamento pois seu foco estava todo na carreira, que apenas começava. Nossos conhecidos, como sempre nos inundavam de perguntas, achismos:

-Tá vendo, ele sempre gostou de você!

Mas ele e Rodolfo acabaram tornando-se amigos ( de passarem o sábado a tarde no futebol) e eu não encontrava o mínimo sinal de que todas aquelas fofocas teriam sentido. Carlos estava longe de ser o tipo submisso e sempre mantinha alguns casos esporádicos.

Numa quarta feira em que Rodolfo estava viajando a trabalho o convidei para comer um hambúrguer . Eu sabia que ele havia passado o fim de semana em São Paulo com os rapazes do escritório. O que eu não imaginava era que ele teria uma novidade que me pegou de surpresa.

- Conheci alguém.

E para meu espanto, respondi rudemente. Juro, foi sem querer.

- Como assim? Em um fim de semana? Em uma noite?

Ignorando minha atitude explicou: Luciana era amiga de Cleiton, um de seus sócios. Cantora, estava se apresentando no bar onde eles passaram a noite de sábado. Uma conversa, vários sorrisos, algumas coisas em comuns e aconteceu : Passaram a noite juntos no apartamento dela. E meu amigo começou a semana apaixonado.

Mostrou-me uma foto: Luciana ao microfone, vestindo uma regata preta de cetim e calças de couro. Cabelos loiros,uma franja ao estilo pin-up , tinha no ombro uma linda rosa tatuada .Durante aqueles nossos sete anos de amizade eu havia conhecido quase todos os seus casos e ela tinha um estilo diferente. Deixei a estranheza de lado:

- Mas e aí, quando vou conhecê-la?

Se alguém me perguntasse agora eu não saberia definir o brilho em seu rosto anguloso. Ao ver meu amigo transparecer uma alegria tão radiante, capaz de cegar quem estivesse ao seu redor me dispus: ( afinal, amigos sempre foram para essas coisas)

- Vamos combinar então, e logo! Quero conhecer a responsável por esse sorriso.

Ao relembrar aquela quarta feira sinto raiva por não ter percebido que fui a primeira a ser cegada por aquela estranha e inesperada felicidade.

*

“Ah, cantoras e suas agendas atribuladas” justificava Carlos toda vez que perguntávamos quando finalmente ele nos apresentaria Luciana.

Em uma semana ela estava no Rio de Janeiro,na próxima em Santa Catarina. Perguntei incontáveis vezes quando ela tocaria de novo no bar onde eles se conheceram. Nossa cidade é perto de São Paulo e eu estava curiosa.

- A banda está ficando famosa. São Paulo não é mais prioridade.

Rodolfo me pedia para não pressionar, talvez ele quisesse dar mais um tempo até que eu, “sua melhor amiga”( título que para mim a essa altura já não fazia a mínima diferença)aprovasse o namoro. Carlos viajava toda semana para encontrá-la e nós nunca podíamos acompanhar. Nós, que sempre o apoiamos em seus tempos de solteiro fomos postos de lado.Enquanto meu namorado tentava lidar com a minha irritação, Carlos mudava cada vez mais. E se distanciava de mim.

- Mas Sandra, é normal. Começo de namoro, você já passou por isso- Até minha mãe estava a par da situação.

Não, eu não havia passado por isso : Nunca havia escondido nada daquele que era meu amigo e que em dois meses se tornou um completo estranho. A única coisa que parecia ser verdadeira era o sucesso que Luciana e sua banda estavam alcançando.

Era domingo, eu estava acabando com o último pote de Haagen-Dazs da geladeira de Rodrigo quando ele me chamou na sala:

- Amor, olha quem está na TV.

Reconheci os cabelos platinados, a tatuagem de rosa: Luciana se apresentava com sua banda em um programa de música independente. Me surpreendi com sua voz: Forte, rasgante, lembrava minha adolescência ao som de Alanis Morrissete. Liguei para Carlos.

Ele pareceu assustado quando contei que estava assistindo a sua namorada cantar. Incomodado, apenas me perguntou o que ela estava vestindo.

- Um vestido vermelho, de um ombro só. Lindo, aliás.

- Presente meu, agora preciso desligar. – E me deixou muda segurando o telefone.

Quase perdi o final da apresentação e Luciana com sua boca vermelho mate avisar:

“ Venham nos ver , tocaremos sábado em São José dos Campos”

Quase derrubei o pote de sorvete. Meu cérebro deu um estalo:

- Baby, temos programa para o fim de semana.

*

Melhor que esperar Luciana tocar na capital foi saber que seu próximo show seria na cidade onde moramos. Decidi não contar para Carlos que finalmente veria sua diva no palco.

Não o encontrei durante aquela semana : Luciana folgou e eles estavam em uma viagem romântica. Mas no sábado ele me chamou para correr e quando perguntei sobre a viagem abriu um sorriso tão absurdo que por um momento parecia que eles haviam se casado em Paris, tamanha era a felicidade.

- Incrível, a melhor. Estou cada vez mais apaixonado.

Aí fiz a minha última tentativa:

- Tá com medo de me apresentar e de que eu fale algo ruim a seu respeito?

Gaguejando, só me respondeu:

- Semana que vem a gente combina alguma coisa, prometo.

Não precisava prometer. Eu havia me cansado e partiria para a ação : Precisava conhecer Luciana ,saber quem era a mulher que estava causando a situação que me incomodava: De pessoa presente, alegre, leve, Carlos havia se tornado, seco, distante., cheio de segredos E para mim amor estava longe disso. Não queria odiá-la antes de conhece-la, mas confesso que estava ficando difícil.,

Rodolfo ainda tentou me dissuadir da ideia, mas eu estava com as respostas mais afiadas que meu salto quinze.

- Não adianta, vamos logo.

E fomos. Assim que entramos no bar, Rodolfo ficou pálido: Carlos já estava lá, em um mesa no ponto mais escuro do salão, perto do banheiro. Ao nos ver seu rosto mudou. Parecia traído, uma pessoa que eu nunca havia visto antes. Que tipo de reação foi aquela? Só não mais estranha que ver um furacão loiro vindo em nossa direção:. Luciana era realmente linda e parecia estar tomada por algum sentimento maligno, cheio de ódio:

- Vocês conhecem esse cara? Ótimo, tirem ele daqui já, ou chamo o segurança.

Carlos tentou se levantar sem falar nada, mas Luciana o agarrou pela manga da camisa. Gritava coisas que para mim soavam desconexas, mas que Rodolfo entendeu perfeitamente:

- Amor, eles não estão juntos.

O nervosismo dela era tão grande que pediu para que Rodolfo segurasse Carlos, que tentava fugir daquela cena estranha.

- Seu amigo é um psicopata! – E me entregou um desenho de seu rosto. Reconheci a assinatura: A letra de Carlos.

E começou a me contar coisas nas quais eu poderia levaria uma vida para acreditar:

Ela namorava e sem coragem para se aproximar Carlos começou a mostrar seu interesse da forma mais intimidadora possível: Aparecendo em todos os seus shows, mandando presentes caríssimos.

Ainda tentei ponderar:

- Mas você é uma artista, tem admiradores, é natural.

-Não quando o admirador começa a te perseguir, a criar uma realidade absurda com você.Ele chegou a me mandar e-mails dizendo que eu estava linda com as roupas que ele havia me dado de presente. Isso é normal?

Lembrei do vestido vermelho que só havia sido um presente na imaginação do meu amigo, e das viagens, os fins de semana que ele havia criado.

- Fins de semana?- Abriu seus e-mails pelo celular. Se eu tivesse algum problema do coração eu teria enfartado:

Sua caixa de entrada estava abarrotada de mensagens: Ele tinha criado uma realidade particular: A chamava de meu amor, dizia que ela estava linda com as roupas que ele havia dado, falava de uma viagem que eles iriam fazer em seu aniversário de namoro.

Luciana tremia, não sabia se podia confiar em mim, mas eu sabia que ela e Carlos precisavam de ajuda.

- Por favor, fala com ele. Me disseram para denunciar, mas o Cleiton é meu amigo e me prometeu fazer algo. Tô esperando até agora

Dei-lhe um abraço sincero e tentei acalmá-la. Mas o grito de Rodolfo tirou de mim qualquer possibilidade de uma atitude sensata.

- SANDRA, PELO AMOR DE DEUS!

Ele chorava, olhando para o meio da rua e um grupo de pessoas parecia não acreditar no que estava vendo. Era a cena que eu levarei mais que uma vida para esquecer:

O corpo de Carlos caído no asfalto , um carro parado , o motorista gritando ao telefone que tinha feito uma besteira. Era surreal ,pavoroso. E eu não entendi nada.

- Ele me pediu para pegar uma cerveja e disse que esperaria aqui fora. Só ouvi o carro, os gritos, o barulho. Meu Deus!

Poderíamos apelar a Deus, a todas as forças do universo que nada adiantaria : Eu sentia uma dor quebrando os meus ossos, me emudecendo, minhas forças deixando meu corpo. Luciana juntou-se a mim, os olhos vazios,sem saber o que dizer:

- Isso foi culpa minha.

Eu não conseguia culpá-la. Não sentia raiva. Eu só me castiguei, desde o primeiro momento: Carlos, você deveria ter falado comigo.

E até hoje, três anos depois me vejo em um mar de interrogações : Por que me escondeu? Por que tanto medo de se mostrar verdadeiramente para Luciana?Por que se jogar em frente a um carro? Do que ele teve vergonha?

Carlos, logo ele que era cheio de sonhos e segurança ( segurança essa que eu admirava e até invejava um pouco) foi pego em uma armadilha, não soube lidar com uma paixão e não teve coragem de pedir ajuda.

Rodolfo e eu nos casamos e toda vez que olho para nossa filha Helena sinto um desejo enorme de que Carlos a tivesse conhecido. Ele seria um ótimo padrinho, um tio incrível. Ela o conhece por fotos e quando as vê já fala com sua voz doce de uma criança de dois anos: Tio Cá.

Nunca mais soube de Luciana ou de sua banda. Ela esteve no funeral e ainda se sentia culpada pela atitude de Carlos naquela noite. Foi uma passagem rápida com um abraço e um pedido de desculpas. Não discuti, pois eu mesma ainda me sinto de alguma forma, responsável.

Falo com ele em minhas orações, talvez esperando alguma explicação divina para seu suicídio, para o trauma que insiste em nos deixar. Quando me pego nesses momentos tento pensar em seu rosto e achar conforto naquele sorriso que me acompanhou por tantos anos.Mas ainda é difícil.

E eu que até então adorava canções sobre amores intensos ao viver o meu próprio final trágico fui obrigada a crescer, a ver a vida de outra forma, a lidar com a dor para não sucumbir.
Quem cantaria Something ao telefone com uma voz horrorosa para me fazer rir? ( ele torturava a minha canção favorita, mas era impagável) ou dançaria aquela coreografia imbecil quando ouvisse Love Hurts?

Pena que nem George Harrison ou Nazareth me ensinaram a lidar com a saudade.
                                                                                                                 D.SConsiglio

quarta-feira, 2 de julho de 2014

OS ARGENTINOS DA MINHA VIDA( SIM, VOCÊ LEU DIREITO)

      Ah, os argentinos...
 Em mês de copa alguns deles quebram cadeiras de estádios, outros fazem bagunça nos metrôs  e todos querem se divertir. Mas para mim o que importa é que na  seleção das artes pelas quais sou mais apaixonada,dois argentinos já foram escalados há muito tempo.
Ricardo Darín chegou primeiro como Marcos no filme Nove Rainhas, a obra que mudou minha cabeça sobre o cinema dos nossos vizinhos: Sua  atuação como o ladrão cínico me levou à uma pequena obra-prima, O filho da noiva, de Juan Jose Campanella,em que ele atua lindamente com Norma Aleandro, que faz sua mãe portadora de Alzheimer. Campanella também o dirigiu em O mesmo amor, a mesma chuva, Clube da Lua e O segredo dos seus olhos.Todos devidamente assistidos e amados por essa que vos fala por suas histórias extremamente humanas, cativantes, emocionais.( aliás, traço comum nas produções argentinas)
A falta de  afetação que Ricardo imprime aos seus trabalhos é o que os torna incríveis: Do padre que luta por uma favela em Elefante Branco( um filme, duro, triste) ao rabugento e engraçadíssimo Roberto de Um conto chinês, ele parece ser uma pessoa possível, sem estrelismos.
Julio Cortázar veio depois com o livro Os prêmios, a história de pessoas comuns que ganham um cruzeiro na loteria e que durante essa viagem tentam fazer coisas extraordinárias, e me surpreendeu ao saber que um de seus contos, As babas do diabo, foi a inspiração para um dos meus filmes favoritos, Blow up, de outro mestre, Antonioni. Filme incrível, um conto aterrador , o autor que agora leio todos os dias.
Li esses dias uma blogueira dizer que tinha preconceito contra autores nacionais. Quando a gente abre a mente, descobre que o cinema é muito mais que Hollywood e que a literatura não se resume aos livros mais vendidos. E se diverte muito mais, vai por mim!

(ps: E eles são parecidíssimos!!!) 

Esse é o Ricardo
E esse  o Julio
                                                                                               D.SConsiglio

terça-feira, 1 de julho de 2014

LEMBRE DO GEORGE- GEORGE HARRISON, O BEATLE QUE ME EMOCIONA.

George nos deixou na semana em que consegui meu primeiro emprego como professora. Abri o jornal e lá estava : Ele havia dormido para sempre e se fez naquele dia  mais vivo do que nunca: No meu quadro branco suas palavras, a conversa dele com Deus.

 Amo o Paul, o Ringo e tenho uma admiração enorme pelo John, mas a quietude do George ainda me emociona. Levo minha paixão pelos Beatles na pele, em uma tatuagem feita há quatro anos atrás e apesar de eu ter escolhido o refrão de uma das mil famosas músicas escritas por Lennon e McCartney, são as canções de Beatle quieto que me fazem chorar sem explicação.
Minha mãe tem uma relação forte com a música e talvez eu tenha herdado isso dela. Não toco nenhum instrumento, mas posso em minutos desenvolver uma relação de amor e ódio com uma canção, não importa o ritmo. É até um pouco bizarro, mas parece que ouço não com os ouvidos, mas com o coração, pois é ele que fica feliz quando ouve de I need you a All thing must pass e me põe para dançar desde meus seis anos com a gravação linda que George fez de Got my mind set on you.
Sou exagerada com palavras,sentimentos, mas o fato é que o trabalho do  fab four caçula, seja na banda ou solo me transporta a uma possível outra vida onde talvez tenhamos nos encontrado.Se alguém me perguntar um dia se  lembro  do George, nem responderei, pois sou feliz apenas por  termos habitado o mesmo mundo, e conhecido aquela canção que cantei com meus alunos no dia em que ele foi embora. É com o vídeo dela que encerro esse post.
Com os olhos cheios de lágrimas. Ah, esse George.
                                                                           D.SConsiglio







                                                   





domingo, 29 de junho de 2014

NÃO FALE COM ESTRANHOS- DIAS PERFEITOS, RAPHAEL MONTES

Téo estuda Medicina e é um rapaz totalmente fora dos padrões : Garante que não vê importância no amor e nutre um mínimo de carinho apenas por Gertrudes, que o ouve atentamente sempre que precisa. Quem é ela? Um cadáver usado nas aulas de anatomia.
 Mora com a mãe cadeirante, Patrícia de quem cuida não por amor, mas por ser algo que se espera de um filho. E muda de rumo no dia em que conhece Clarice em um churrasco ao qual foi levado a contragosto.
Espontânea e amigável, ela é estudante de cinema ,está trabalhando no roteiro de um filme chamado Dias perfeitos  e o conquista de cara. O problema é que Téo é uma mistura de inocência bizarra e inadequação, uma bomba relógio prestes a explodir.
Obcecado, começa a segui-la, com atitudes que ao lermos nos deixam de boca aberta. Se aproxima dela e quando é rejeitado a sequestra e a esconde em uma mala( você leu direito) e a carrega para um hotel para que termine seu roteiro. Em sua mente ele precisa mostrar o quanto a ama. E fará isso de qualquer maneira.
Raphael Montes em seu segundo livro destrincha a alma doente de um apaixonado que justifica todas as suas atitudes desprezíveis como sendo por amor.Violento, cru  é um livro que te sequestra a cada página. E não te liberta até o final seco, imprevisível, sem firulas, perfeito para uma estória bem amarrada e cheia de surpresas. Ah, e com uma pequena referência ao enredo de seu primeiro romance, Suicidas ( que ainda não li , mas está a caminho), que para mim foi uma sacada genial.
Talvez eu conheça um Téo, talvez você conheça. Espero que não.
                                                                                                     D.SConsiglio